O suicídio é um problema em todo o mundo e está associado a questões de saúde mental, indo contra o nosso instinto natural de sobrevivência. Ele pode ser causado pela associação de diversos fatores, como predisposição genética e problemas pessoais, e a falta de ajuda é um fator muito impactante quando falamos em pessoas que tiram a própria vida.
Muitas vezes, um suporte emocional de quem está por perto e um acompanhamento profissional pode ser o que faz a diferença ao salvar vidas. Estima-se que 90% dos suicídios poderiam ser evitados com ajuda psicológica. Por isso, foi criado o Setembro Amarelo, para discutir temas de saúde mental que estão ligados ao suicídio no Brasil.
A data não apenas é um alerta e forma de prevenção como também traz debates importantes. Além disso, ajuda a acabar com o estigma social de que o suicídio e as patologias associadas são “para chamar a atenção” ou que quem precisa de psicólogos e psiquiatras é “louco” ou “fraco”, contribuindo para que nem todas as pessoas procurem ajuda.
Para entender melhor o que é Setembo Amarelo, acompanhe nossa série de posts dedicadas a esse tema. Nessa primeira parte, você descobre a origem e a importância de falar desse assunto tão delicado, mas, ao mesmo tempo, tão necessário.
Yellow Ribbon e como surgiu o Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo acontece desde 2014, graças à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Esse é um evento nacional que ocorre nesse mês porque o dia 10 de setembro é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Já a cor amarela é um legado de Dale Emme e Darlene Emme, que iniciaram uma campanha da fita amarela depois que seu filho, Mike, se suicidou em um carro dessa cor.
Assim, a iniciativa brasileira foi inspirada na fundação chamada Yellow Ribbon (Fita Amarela), que foi criada em 1994 pelos pais e amigos de Mike. Após o fim repentino de seu primeiro relacionamento, o jovem de de apenas 17 anos, se sentou no seu carro Mustang amarelo, que tinha restaurado com muita dedicação, e atirou em si mesmo. Ele ainda deixou um bilhete para seus pais dizendo: “não se culpem, mamãe e papai, eu amo vocês. Com amor Mike. 23:45”. Sete minutos depois, às 23h52 da mesma noite, os pais de Mike e o irmão mais velho chegaram na garagem ao lado do Mustang. Sete minutos que mudariam tudo.

Mike nunca pediu ajuda sobre o momento difícil que passava. Seu suicídio foi um choque para os seus familiares e amigos, que resolveram usar a cor amarela em memória do jovem. Então, foram feitos 500 cartões com fita amarela e uma mensagem breve: “se você pensa em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”.
Os cartões ficaram em um cesto durante o funeral de Mike, com o objetivo de ajudar a prevenir o suicídio de outros adolescentes. Ao final da cerimônia, todos os cartões haviam sido levados, e não demorou para que Dale e Darlene Emme começassem a receber ligações e mensagens de pessoas que haviam recebido os bilhetes.
Com isso, a fita se tornou um forte símbolo, dando origem à fundação Yellow Ribbon. De maneira simples, mas eficaz, os cartões são direcionados aos adolescentes e jovens que passam por um momento difícil e pensam em tirar a própria vida, enquanto os adultos recebem informações sobre o que fazer caso recebam um cartão.
Desde 1994, esse programa da Yellow Ribbon já distribuiu mais de 19 milhões de cartões e salvou mais de 114 mil vidas. Da mesma forma, o Setembro Amarelo tem salvado muitas pessoas aqui no Brasil ao mostrar que é possível buscar ajuda quando estamos sem esperança e, principalmente, fazer com que amigos e familiares possam amparar alguém querido a dialogar e buscar profissionais.
São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Essa é uma realidade muito triste, que afeta pessoas de todas as idades, mas que tem sido cada vez mais comum entre os jovens. Depressão é a causa número 1 desses suicídios, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.
Como participar ativamente do Setembro Amarelo

O suicídio raramente é causado por um único fator, sendo muito influenciado por problemas pessoais diversos. Uso de substâncias, estresse, desemprego, problemas de moradias e inúmeras questões mentais associadas acabam sendo um gatilho para que a pessoa escolha tirar a própria vida.
Por isso, estar atento a todos os sinais de pessoas que estão passando por um momento difícil é essencial. Muitas vezes pessoas depressivas não demonstram abertamente suas emoções, mas se você desconfia que há algo de errado ou diferente acontecendo, nunca deixe de mostrar apoio e tentar ajudar de alguma maneira.
É preciso entender que qualquer pessoa pode ter pensamentos suicidas, mas é importante saber que eles não devem ser permanentes. Assim, alguns sinais a serem observados dentro do seu ciclo de convivência incluem:
- História familiar de suicídio
- Abuso de substâncias – o uso de drogas e álcool resulta em altos e baixos emocionais que podem despertar pensamentos suicidas
- Trauma ou abuso
- Estresse prolongado
- Isolamento
- Tragédia ou perda recente
- Rejeição familiar em função de homofobia
- Ideação suicida – ameaças ou comentários sobre suicídio que podem parecer inofensivos, mas podem se tornar perigosos
- Comportamento agressivo e / ou mudanças dramáticas de humor
- Falar, escrever ou pensar sobre a morte
- Comportamentos impulsivos ou imprudentes
E mais do que divulgar o Setembro Amarelo nas redes sociais, é preciso levar a campanha para o dia a dia, de forma efetiva. Se você conhece alguém que pode estar pensando em suicídio, pode ajudar se oferecendo para ouvir. Ouvir alguém pode mostrar para a pessoa que ela é querida e dar a ela uma maior sensação de controle.
Depois de ouvir por um tempo, pergunte à pessoa se ela já pensou em suicídio. Perguntar pode ser difícil, mas a resposta vai te mostrar possíveis sinais de alerta. Se a resposta for “não”, continue ouvindo. Nunca diga que você está feliz ou aliviado, pois isso diminui a probabilidade da pessoa ser honesta se a resposta mudar.
Já se a resposta for “sim”, é importante manter a calma e não mostrar sinais de medo ou raiva. Continue ouvindo, deixe que a pessoa saiba que você se importa e busque uma maneira de buscar ajuda especializada, mesmo que a pessoa não queira isso. Contar a um profissional sobre suas preocupações pode salvar a vida de alguém que você ama.
Quanto mais informação existir, menor será o preconceito. Por isso, o debate em torno do Setembro Amarelo é tão importante! Palestras, atividades e eventos que abordam a prevenção do suicídio são essenciais. Se puder, organize ações na sua comunidade e espalhe a mensagem desse tema tão importante.
Não se esqueça também que, apesar do forte significado do Setembro Amarelo e de esse ser o mês dedicado oficialmente ao combate ao suicídio, seu legado deve durar o ano todo! Não importa qual seja a data, a informação e prevenção devem permanecer e ser parte do nosso convívio como sociedade.
Se você está passando por um momento difícil e pensa em suicídio, ou conhece alguém que possa estar com dificuldades, busque ajuda!
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias:
Ligue 188 ou acesse os links: